domingo, 21 de setembro de 2014

Sessão Poemas de Amor

1.PABLO NERUDA
"Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te. 
Por isso te amo quando não te amo 
e por isso te amo quando te amo."


2.VINÍCIUS DE MORAES
Soneto do Amor Total
"Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."


3.CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
As sem-razões do amor

"Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."


4.FERNANDO PESSOA
"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não éA dor que já me não dóiA antiga e errônea féO ontem que a dor deixou,O que deixou alegriaSó porque foi, e voouE hoje é já outro dia."


5.FERNANDO PESSOA (2)
"O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..."


6.CHICO BUARQUE
"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora 
Me conta agora como hei de partir

Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios 
Rompi com o mundo, queimei meus navios 
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas 
Já confundimos tanto as nossas pernas 
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão 
Se na bagunça do teu coração 
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido 
Meu paletó enlaça o teu vestido 
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos 
Teus seios inda estão nas minhas mãos 
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás só fazendo de conta 
Te dei meus olhos pra tomares conta 
Agora conta como hei de partir"


7.LUÍS DE CAMÕES
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Poética - Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Amor - Fernando Pessoa/ Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moares

Faz algum tempo que ando pensando no que é o "amor", de que tanto as pessoas falam. Nao duvido que exista, mas é realmente um sentimento complexo demais para ser descrito. Eu admito que tentei e falhei, mas nada do que eu tenha que sentir vergonha, vários poetas tentam isso há anos e, ainda sim, nao conseguiram. Abaixo estão dois poetas que, para mim, descrevem bem o que eu imagino que seja o Amor:
O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar... - Fernando Pessoa
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure. - Vinicius de Moraes


Estou feliz de dizer que encontrei alguém para mim, que me faz ter uma visão mais clara e um pouco mais precisa desse sentimento. Nao sou a pessoas mais menininha, nem delicada do mundo, mas esforço-me ao máximo para ser a melhor. (Creio que isso seja um dos efeitos de se gostar tanto de alguém).


E esse foi o modo de mostrar e agradecer à quem esta comigo por todos os momentos e, principalmente, por te me mostrado como tudo pode ser maravilhoso! <3

- Homenagem aos seis meses com meu amor - 

domingo, 27 de julho de 2014

Instrumentos Mortais: Cidade de Ossos - Cassandra Clare

Olá, pessoas! Cá estou eu novamente, com mais uma resenha para vocês. Demorei um tempo porque está difícil de encontrar títulos e tempo para eu ler. Bem, sem mais enrolações, eis a resenha:

Clary Fray, 15 anos, decide passar a noite em uma boate muito conhecida em Nova York, e o maior de seus problemas provavelmente seria lidar com o ignorante segurança da porta, certo? Errado. Clary testemunha um crime, e não um crime qualquer: Um assassinato à sangue frio cometido por três adolescentes cobertos por enigmáticas tatuagens, brandindo armas esquisitas. Para completar, o corpo da vítima desaparece no ar.
Clary quer ligar para a polícia; quer gritar; quer chamar seu amigo, Simon, que ficou na boate enquanto ela teve a infeliz ideia de perseguir o menino bonitinho de cabelo azul... Mas como explicar a eles que ninguém mais na rua enxerga os assassinos, apenas ela? Como provar que houve um crime se não há rastro algum do sangue do garoto morto — aliás, era mesmo um menino?
Mas ela nem tem tempo de tomar uma decisão; logo os assassinos se apresentam para a estranha mundana que não deveria vê-los, mas vê. Jace, Alec e Isabelle são Caçadores de Sombras, guerreiros cuja missão é proteger o mundo que conhecemos de demônios e outras criaturas sobrenaturais. Vampiros que saem da linha, lobisomens descontrolados, monstros cheios de veneno? É por aí mesmo. E depois desse primeiro contato com o Mundo de Sombras, e com Jace — um Caçador que tem a aparência de um anjo, mas a língua tão afiada quanto Lúcifer —, a vida de Clary nunca mais será a mesma. Mesmo.

Eu mesma não me interessei pelo livro, então pedi a uma amiga que me disse o que achou do título e estas foram as palavras dela: 
"Uma história intrigante, que prende a atenção dos leitores mais ambiciosos e prontos para qualquer tipo de novidade. Uma ótima leitura a quem gosta de muita fantasia e suspense. Talvez um pouco reprovador os olhos daqueles que acham que as regras devem ser seguidas a risca, tanto na vida como no amor.
Como todo best-seller norte americano, Cassandra Clare surpreende a cada capítulo, instigando o leitor a querer sempre mais de seus livros.
Cada palavra lhe puxa ao universo de Clarrisa, onde se vive literalmente as aventuras como se você fosse um personagem, as vezes, quem sabe para os mais imaginativos, trazendo algumas situações ao mundo real e se identificando nas relações pessoais das personagens. Com certeza a autora sabe como chamar a atenção para seus romances."

Espero que tenham gostado e leiam! 

Boa leitura! o/ 

Créditos da Resenha para Nathâne Jurowitz. (=33)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Livros - Brotherband, Vol1: Os Exilados

Cá estou, depois de muito tempo! kkk
Bem, vim falar sobre o primeiro livro da série Brotherband: Os Exilados. Ele foi escrito por John Flanagan, autor de Rangers - Ordem dos Arqueiros e, como eu esperava, o autor voltou a fazer valer sua fama!

Sinopse:
O pequeno e franzino Hal nunca conheceu o pai, um dos maiores guerreiros que defenderam o reino de Escândia. Bem diferente dele, Hal em nada se parecia com um forte e bravo lutador, características valorizadas por seus conterrâneos, tradicionalmente valentes e homens do mar. Isso e mais o fato de ele ser filho de uma escrava vinda de Araluen o tornava um estrangeiro em seu país.
Mesmo sentindo-se exilado entre seu povo, havia algo que aproximava Hal dos outros garotos: o Brotherband, ou "irmãos de armas" - um conjunto de treinamentos que simulava as atividades da tripulação de um barco, com equipes que competiam entre si em testes de resistência e força e aprendiam as habilidades necessárias para se tornarem guerreiros invencíveis.
Rejeitado pelos líderes dos demais grupos, Hal junta-se a seu grande amigo Stig e a outros renegados e forma o próprio time. Mas um fato inesperado vai mudar o destino dessa equipe incomum e levá-la a navegar por mares perigosos, rumo a aventuras incríveis e batalhas ferozes.

O que eu achei do livro? Simplesmente incrível! Ele tem tudo que uma aventura tem que ter e muito mais. Os personagens são bem marcados por suas próprias características e, com isso, se tornam muito marcantes. O enredo te prende do começo ao fim e, pelo menos eu, achei a história muito divertida. O que a deixa ainda mais real é o fato de serem usados termos náuticos no meio de toda a narração.
Com um personagem principal pequeno e "fraco" fisicamente, que é a marca do autor, somos levados por caminhos improváveis e acabamos por gostar dos "perdedores".
Então, para quem gosta de aventura e emoção, esse livro é a chave para horas de pura diversão e entretenimento!

Boa leitura! =3

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Mudam-se os tempos - Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

             

sexta-feira, 21 de março de 2014

Livros - As Traumáticas Aventuras do Filho do Freud

Faz tempo que não falo sobre livros e não é para menos, afinal, estou estudando muito para passar no vestibular. Sendo assim, não sobra muito tempo para a leitura.
Entretanto, esse título eu não pude deixar passar. Não é bem um livro, é uma coleção de tirinhas feitas por Pacha Urbano. Eu estava doida para ler esse desde o ano passado e quando ganhei de aniversário, não pude deixar para depois.
As Traumáticas Aventuras do Filho do Freud fala sobre a interação de Jean-Martin, primogênito do doutor, com o resto da família, principalmente com o pai. Essa interação é descrita de um jeito cômico/humorístico (com um humor mais ou menos negro, dependendo do seu ponto de vista) e de simples compreensão.
Para quem gosta e curti tirinhas, é mais que recomendado!
(todos os crédito e autorias, da tirinha, a Pacha Urbando)
Visitem a página no face: https://www.facebook.com/FilhoDoFreud?fref=ts 

Dia da Poesia - Fernando Pessoa

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

sexta-feira, 14 de março de 2014

Desconcerto do Mundo - Camões

"Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado,
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado."

quarta-feira, 12 de março de 2014

Eu Te Amo... Não diz TUDO! - Martha Medeiros

Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, 
Que zela pela sua felicidade, 
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, 
Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas, 
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.
Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás, 
É ver como ele(a) fica triste quando você está triste, 
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água. 
Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido. 
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, 
Sem inventar um personagem para a relação, 
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; 
Quem não levanta a voz, mas fala; 
Quem não concorda, mas escuta. 

Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!

As Sem-Razões do Amor - Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Gigolô das Palavras - Luís Fernando Veríssimo

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sonete CV - W. Shakespeare

Não chame o meu amor de Idolatria 
Nem de Ídolo realce a quem eu amo, 
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo. 
É hoje e sempre o meu amor galante, 
Inalterável, em grande excelência; 
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença. 
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo; 
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento; 
E em tal mudança está tudo o que primo, 
Em um, três temas, de amplo movimento. 
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora; 
Num mesmo ser vivem juntos agora.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Pra Não Dizer que Não Falei das Flores - Geraldo Vandré

- Uma clássica do MPB! - 
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

A Hora Íntima - Vinícius de Moraes

Quem pagará o enterro e as flores 
Se eu me morrer de amores? 
Quem, dentre amigos, tão amigo 
Para estar no caixão comigo? 
Quem, em meio ao funeral 
Dirá de mim: - Nunca fez mal... 
Quem, bêbedo, chorará em voz alta 
De não me ter trazido nada? 
Quem virá despetalar pétalas 
No meu túmulo de poeta? 
Quem jogará timidamente 
Na terra um grão de semente? 
Quem elevará o olhar covarde 
Até a estrela da tarde? 
Quem me dirá palavras mágicas 
Capazes de empalidecer o mármore? 
Quem, oculta em véus escuros 
Se crucificará nos muros? 
Quem, macerada de desgosto 
Sorrirá: - Rei morto, rei posto... 
Quantas, debruçadas sobre o báratro 
Sentirão as dores do parto? 
Qual a que, branca de receio 
Tocará o botão do seio? 
Quem, louca, se jogará de bruços 
A soluçar tantos soluços 
Que há de despertar receios? 
Quantos, os maxilares contraídos 
O sangue a pulsar nas cicatrizes 
Dirão: - Foi um doido amigo... 
Quem, criança, olhando a terra 
Ao ver movimentar-se um verme 
Observará um ar de critério? 
Quem, em circunstância oficial 
Há de propor meu pedestal? 
Quais os que, vindos da montanha 
Terão circunspecção tamanha 
Que eu hei de rir branco de cal? 
Qual a que, o rosto sulcado de vento 
Lançará um punhado de sal 
Na minha cova de cimento? 
Quem cantará canções de amigo 
No dia do meu funeral? 
Qual a que não estará presente 
Por motivo circunstancial? 
Quem cravará no seio duro 
Uma lâmina enferrujada? 
Quem, em seu verbo inconsútil 
Há de orar: - Deus o tenha em sua guarda. 
Qual o amigo que a sós consigo 
Pensará: - Não há de ser nada... 
Quem será a estranha figura 
A um tronco de árvore encostada 
Com um olhar frio e um ar de dúvida? 
Quem se abraçará comigo 
Que terá de ser arrancada? 

Quem vai pagar o enterro e as flores 
Se eu me morrer de amores?

Mafalda - Quino


- Sim à democracia! Sim à justiça! Sim à liberdade! Sim à vida! -


domingo, 19 de janeiro de 2014

Mafalda - Quino


- Cuidado! Irresponsáveis trabalhando - 



Livro - O Pesadelo

Esse livro faz parte de uma das minhas séries favoritas: As Aventuras do Caça-Feitiço. Bem, não é uma coleção que qualquer um vá gostar, mas quem quiser ter um gostinho, o primeiro é: O Aprendiz.
Aqui, Tom já está quase formado como caça-feitiço. Ele e seu mestre vão para a Ilha de Mona, próxima ao Norte do Condado. Eles estão fugindo da guerra, que chegou a cabana do Mestre. Ali, nenhum refugiado é bem-vindo e eles terão que enfrentar os aldeões, uma nova criatura das trevas (buggane), um Xamã e uma antiga inimiga.

Resenha: Após a viagem à Grécia, o cenário para O PESADELO é outra vez o Condado. Mas tudo mudou, e uma grande surpresa os guarda: o que era para ser um simples retorno à terra natal se transforma em um pesadelo das maiores proporções. A fuga para a Ilha de Mona não sairá impune; afinal, o local não é deserto, e logo o trio descobrirá que há uma nativa nada amigável.

O livro, como os outros, é bem escrito e organizado. Todos os eventos estão correlacionados e tem um fechamento lógico. A história é ótima, mas não é para qualquer um. Você tem que gostar de uma coisa leve e nem um pouco normal, para curtir a história.
Muito fantasioso, com bastante aventura e um enredo complexo é uma história envolvente e chamativa, que te deixa curiosíssimo para saber o final. São sete livros, escritos por Joseph Delaney e traduzidos no momento no Brasil, se quiserem testar um aviso: "CUIDADO: Não deve ser lido à noite!"

Boa Leitura o/   

sábado, 18 de janeiro de 2014

Nada Como o Tempo - Desconhecido

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o "alguém" da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

- Façam as coisas sabendo que não vão se arrepender depois. Porque se for para se arrepender, seria melhor não ter feito nada. -

O Sonho - Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Livros - Legados de Lorien

Faz tempo que não posto sobre livros, então vou falar de uma série que adoro: Os Legados de Lorien. Ela é escrita por Pittacus Lore, o ancião chefe dos lorienos.
Conta a história de nove crianças que foram mandadas para a Terra, um pouco antes de o planeta delas ser destruído. Elas vem para poderem ser treinadas e poderem derrotar os mogadorianos, que estão tentando invadir a Terra, também.

Resenha: "Nove de nós vieram para cá. Somos parecidos com vocês. Falamos como vocês. Vivemos entre vocês. Mas não somos vocês. Temos poderes que vocês apenas sonham ter. Somos mais fortes e mais rápidos que qualquer coisa que já viram. Somos os super-heróis que vocês idolatram nos filmes e nos quadrinhos — mas somos reais. Nosso plano era crescer, treinar, ser mais poderosos e nos tornar apenas um, e então combatê-los. Mas eles nos encontraram antes. E começaram a nos caçar. Agora, todos nós estamos fugindo. O Número Um foi capturado na Malásia. O Número Dois, na Inglaterra. E o Número Três, no Quênia. Eu sou o Número Quatro. Eu sou o próximo." (Livro 1 - Eu sou o número quatro)


Eu nunca tinha lido um livro sobre alienígenas, sério. Essa é a primeira série e tenho que admitir: é muito boa. Adoro esse tipo de livro, super ficção, e além do mais, o autor soube muito bem como contrapor os acontecimentos bons com os ruins. 
Uma série que te faz chegar ao ápice da ansiedade, animação e desespero. Você acaba se apegando a todos os personagens e detestando alguns. O vilão tem tudo para ser lendário, ele inspira o ódio do leitor, mas ao mesmo tempo você consegue ver o ponto de vista dele, claro como a água.
Enfim, uma série ótima, com quatro livros lançados e uma sequência a parte, chamada: Os Arquivos Perdidos. Para quem gosta, recomendo; para quem nunca leu como eu: leia, pode ser que venha a gostar.

Boa Leitura o/